É pau, é pedra, é lenha, é foda
sábado, 4 de outubro de 2008Em 1972, O Pasquim teve a brilhante idéia de lançar uma série de discos compactos, cada um com apenas duas faixas. A primeira canção do primeiro número desse projeto, chamado Disco de Bolso, foi escrita por Tom Jobim e, ainda hoje, é uma das músicas mais lembradas e bem quistas do repertório nacional. Águas de março chegavam ao público antes mesmo do lançamento de Matita Perê, primeiro álbum jobiniano a incluir essa música que pincela o final de uma tarde de verão.
No encarte de O Tom e o Tal, nome dado ao primeiro compacto dessa série, o “maestro soberano” assumia declaradamente a influência que um poema, escrito por Olavo Bilac, exerceu sobre a letra de Águas de março. Versos de O Caçador de Esmeraldas denunciam a ligação entre o universo poético do parnasiano e a criação musical do bossanovista: “Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada/ Do outono, quando a terra, em sede requeimada/ Bebera longamente as águas da estação”.
No entanto, para além das meras referências, Tom Jobim foi acusado de plágio. A canção Água de Céu, gravada em 1956 por uma cantora da época chamada Inara, traz semelhanças nítidas quando comparada a Águas de março, em termos de letra e melodia. “É chuva de Deus/ É chuva abençoada/ É água divina, é alma lavada”. Jogando mais lenha na fogueira, José Ramos Tinhorão ainda aponta que a estrutura melódica, rítmica e literal que aproxima as composições de Inara e Jobim nasceu de um ponto folclórico que diz: “É pau, é pedra, é seixo miúdo/ Roda baiana por cima de tudo”.
O fato de a melhor canção nacional, segundo enquete realizada pelo jornal Folha de S. Paulo em 2001, ter sido considerada plágio atualiza a discussão sobre os limites turvos e tempestuosos entre homenagem, referência e cópia. A Fraude, por sua vez, prefere soltar o riso irônico, quase antropofágico, sobre o alvo de seus dolos. Como talvez Chico Buarque o tenha feito, meio alheio a tudo isso, numa de suas referências em Subúrbio, faixa de Carioca, que agora vem bem a calhar: “É pau, é pedra/ É fim de linha/ É lenha, é fogo, é foda”.
No encarte de O Tom e o Tal, nome dado ao primeiro compacto dessa série, o “maestro soberano” assumia declaradamente a influência que um poema, escrito por Olavo Bilac, exerceu sobre a letra de Águas de março. Versos de O Caçador de Esmeraldas denunciam a ligação entre o universo poético do parnasiano e a criação musical do bossanovista: “Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada/ Do outono, quando a terra, em sede requeimada/ Bebera longamente as águas da estação”.
No entanto, para além das meras referências, Tom Jobim foi acusado de plágio. A canção Água de Céu, gravada em 1956 por uma cantora da época chamada Inara, traz semelhanças nítidas quando comparada a Águas de março, em termos de letra e melodia. “É chuva de Deus/ É chuva abençoada/ É água divina, é alma lavada”. Jogando mais lenha na fogueira, José Ramos Tinhorão ainda aponta que a estrutura melódica, rítmica e literal que aproxima as composições de Inara e Jobim nasceu de um ponto folclórico que diz: “É pau, é pedra, é seixo miúdo/ Roda baiana por cima de tudo”.
O fato de a melhor canção nacional, segundo enquete realizada pelo jornal Folha de S. Paulo em 2001, ter sido considerada plágio atualiza a discussão sobre os limites turvos e tempestuosos entre homenagem, referência e cópia. A Fraude, por sua vez, prefere soltar o riso irônico, quase antropofágico, sobre o alvo de seus dolos. Como talvez Chico Buarque o tenha feito, meio alheio a tudo isso, numa de suas referências em Subúrbio, faixa de Carioca, que agora vem bem a calhar: “É pau, é pedra/ É fim de linha/ É lenha, é fogo, é foda”.